quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fim do dia


Eu estava exausta. Tive um longo e cansativo dia de trabalho. A única coisa que eu mais queria era chegar em casa e cair num sono tranquilo. Durante parte de minha tarde ouvi minhas colegas caçoando de mim por eu ser a mais nova. Pessoas não pararam de me dar ordens. Meus pés caminharam de um lado para o outro, às vezes quase sem interrupição. Porém eu precisava do trabalho. Além disso, ainda tive que dar de cara com a má sorte. Com passos descuidos acabei pisando em algo desagradável na calçada, recebi um presentinho de um pombo e ainda tentaram me roubar quando eu me encontrava na estação de trem.
Por fim, decidi passar em uma praça para esfriar a cabeça, antes de ir para casa. Já não tinha mais esperançaas de ao menos ter o término do dia com algo que pudesse me fazer esquecer dos acontecimentos trazidos pela minha falta de sorte.
Houve um momento em que me deparei com uma linda boneca, que se encontrava no chão. Não hesitei em pegá-la. Com isso, continuei caminhando, tentando imaginar que havia uma garotinha que deveria estar procurando pela boneca. Ao longe ouvi um choro, que me chamou a atenção. Dando passos um pouco rápidos encontrei uma criança agarrada a perna de uma mulher, que deduzi ser sua mãe. De alguma forma, percebi que eu sabia o motivo daquela tristeza. Agachei-me. A mulher tornou-se alerta, porém mostrei a boneca para ela, que me permitiu seguir em frente.
- Por acaso essa boneca é sua? - perguntei em um doce tom.
Seu olhar voltou-se para mim. Seus olhos brilharam e logo pude ver em seu rostinho, um sorriso tão belo que me encheu de alegria.
Afinal, meu dia não foi tão ruim.
Voltei para casa, também com um grande entusiasmo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mundo sem tempo


Caminhando com passos curtos, passei pela pequena e quase deserta vila, que atraia os olhos dos tolos. Sua aparência rústica em meio à modernidade, chamava a atenção, principalmente durante à noite, que era quando mostrava sua face animadora, que parecia ser a verdadeira.
Durante o dia mostrava-se quieta, aparentando não ter nenhuma alma viva. Apenas podia-se ouvir o som de um pequeno gato, com as listras de uma zebra, que sempre pedia atenção, procurando receber algum carinho de alguém que por milagre tivesse um tempo livre. 
Nessa cidade quase não há pessoas, que tenham ao menos alguns minutos livres, todos os dias. Talvez não seja à toa, que ela se chama Anti-free. Para mim esse nome fazia muito sentido, entretanto para a grande maioria, isso não possuía significado algum. Considerava todos uns fantoches do mundo. Sentia-me uma sortuda por não precisar compartilhar o meu mundo verdadeiro.
Meus pés levaram-me para minha pequena casa, que se encontrava um tanto afastada da cidade. Nela me sentia confortável e os sons da modernidade eram quase inaldíveis. Sentada em uma deselegante poltrana esverdeada, eu esperava uma visita, que ao ver já estava atrasada fazia uma semana. Não sentia pena dessa visita, já que meu coração era mais bondoso que o de minha mãe, que já teria ido a procura de sua visita e lhe teria arrancado sua cabeça insignificante, como minha própria mãe dizia. Dava graças, por ela não estar mais morando junto a mim. Com minha insistência, me deixou vir para esse mundo sozinha, enquanto ela teve que permanecer no mundo, em que vivi durante mais de cinquenta anos. Apesar de não me sentir muito à vontade nesse mundo sem tempo, ao menos parecia uma garota de dezesseis anos. Isso me agradava muito, fazendo-me abrir um meigo e tímido sorriso, disfarçando meus objetivos com essa beleza adolescente.
Dim-dom.
Levantei-me, indo abrir a porta para minha visita.
- Olá, minha querida!
- Oi, tia. - disse com maior desânimo, que estivesse ao meu alcance, tentando não mostrar minha desconfiança.
Seus olhos se estreitaram, porém logo relaxaram.
- Como está sendo sua vida aqui?
- Boa. Mas não há muito o que fazer.
- Por que você não volta para casa?
- Ainda tenho algumas obrigações a cumprir aqui.
- Entendo.

À noite, a deixei dormindo em um dos quartos de hóspedes. Troquei de roupa e tentei sair, sem que eu a acordasse. Ao girar a maçaneta, percebi que estava como uma pedra e de forma esperada, sua elevada temperatura queimou minha mão. Já desconfiava que meu plano não daria certo.
- Aonde você pensa que vai... Filha? - minha mãe apareceu no último degrau de minha escada de madeira.
- Mãe. Você não sabe nem disfarçar. Continua sendo uma péssima atriz. Achou que eu não ia perceber? - perguntei com um intenso sarcasmo.
- Corta! Está perfeito. - disse um homem, que estava segurando uma câmera, em uma das janelas da sala.
Uma expressão de profunda incredulidade dominou-me.
- Te peguei. - disse minha mãe, entre risos medonhos. - Achou que dessa vez você iria me pegar?
Não acreditei no que vi. Fui enganada por minha própria mãe. Pensei que como sempre, ela iria tentar me levar de volta ao nosso mundo, mas fui completamente enganada. Sem lutas, sem absolutamente nada.
- Minha querida, achei o quarto muito confortável. Você não se sentirá mais sozinha. Não é mesmo, senhor Gad? - seus olhos caíram para o homem com a câmera, que em poucos segundos, se transformou no gato com listras de zebra.
Pensei comigo mesma: pobre gato sem tempo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Café da manhã



Hoje presenciei um pequeno acidente no café da manhã.
Levantei ainda com sono e com uma extrema vontade de voltar para a minha cama. O engraçado é que mesmo estando cansada, antes do despertador tocar, eu já estava acordada. Com isso, acabei lembrando de muitos amigos meus, que sempre dormem durante as aulas, pois dormem tarde, porque querem, ou pelo simples fato, de que não conseguem dormir muito bem durante uma boa parte da noite. Parece que nosso cérebro fica ativo o tempo todo com sonhos, lembranças, pensamentos, preocupações. Mas... continuando sobre o café da manhã...
Quando estava caminhando pelo corredor, escutei alguns sons, que vinham da cozinha. Achei isso muito estranho e exatamente por isso avancei mais rapidamente para a cozinha. Talvez ainda eu não estivesse suficientemente acordada. Ao girar a maçaneta, abrindo a porta, me deparei com alguém... Meus olhos se arregalaram, principalmente ao ver uma enorme mancha e respingos, que invadiram até mesmo, uma das paredes.
Reparei no café derramado pela cozinha e percebi que aquele acidente tinha sido bem feio. Olhei para a certa pessoa, que se encontrava na cozinha. Ela me lançou um olhar de decepção, devido ao acidente. Perguntei a ela, se queria ajuda. Ela agradeceu, porém recusou, pois me disse para tomar meu café da manhã, se não eu iria me atrasar para a escola. Apenas assenti com a cabeça.
Enquanto comia, fiquei observando quando ela passou a limpar o chão, com um rodo, acompanhado de um pano. Eu quase nunca a via com um rodo. Na verdade, praticamente não vejo ninguém passando um rodo no chão. Nem mesmo na televisão. Com tanta tecnologia, a grande maioria das pessoas acaba escolhendo os meios mais práticos para limpeza e acabam se esquecendo dos meios antigos, que às vezes continuam sendo mais eficazes do que os atuais.
Quando vejo pessoas com um rodo, geralmente são empregadas domésticas, ou pessoas que trabalham com a limpeza.
Acabei pensando em uma pergunta, que me pareceu um tanto curiosa: Quantos jovens de hoje, já passaram pelo menos uma vez, um rodo no chão?
Penso que, talvez muitos ou poucos. Uma vez, talvez a grande maioria já deve ter usado um rodo. Porém usá-lo várias outras vezes, é mais provável que a maioria dos jovens não esteja incluída.
A única coisa que posso dizer, é que aquele rodo me fez pensar sobre a enorme aceitação do novo e o desprezo do que é antigo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Provocadora imaginação



Querido Amigo,

Não sei o que lhe dizer. Apenas gostaria de mostrar o que há por dentro de uma caixa escondida, num lugar tão profunfo, que nem mesmo a areia mais fina poderia tocar.
Entre as nuvens do céu, posso ver seu rosto. Sob a chuva, vejo seu reflexo. Com o vento sinto sua presença. Não sei o que há comigo. Talvez uma provocadora imaginação, que momentaneamente deturpa meus pensamentos, ou, talvez, só talvez, tudo o que vejo é tão real, que posso sentir da forma mais pura de um coração.
Tantos sorrisos. Tantos abraços. Brincadeiras de uma memorável infância. Às vezes me pergunto, o por quê sinto como se você estivesse tão longe, porém, ao mesmo tempo, tão perto. As contradições não me libertam, porém sem elas não vivo. O doce sentimento imaginativo não sou capaz de abandonar. Por trás das lembranças, talvez exista algo a mais, que não consigo enxergar, estando com os olhos vendados por meu engano. Algum sentimento disfarçado pode haver. Mas para mim, não é possível dizer. Apenas digo... Quero te ver ao entardecer.

Com carinho,
        de sua...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cores de uma vida



Um dia, apenas deixei meus olhos rolarem por todos os cantos, tentando captar o máximo de detalhes possíveis. Já que minha mente se encontrava mais vazia do que de costume, logo procurei arranjar algo interessante para pensar. Porém durante os primeiros minutos meus olhos fascinados por certas belezas, me impediram. Ao conseguir voltar ao meu mundo, consegui fazer com que os pensamentos trouxessem palavras e imagens para preencher minha mente, que ainda se encontrava deserta como um oceano sem peixes.
Imaginei tudo ao meu redor com cores diferentes das quais se mostravam. Meus olhos provocaram uma ilusão à minha frente, que ao mesmo tempo era real. As árvores não eram mais verde e marrom. Estavam com uma cor rosada, fazendo-me lembrar de um enorme algodão doce. O asfalto se encontrava em um tom azulado e ao andar nele, parecia que havia água abaixo de seus pés. Dos prédios dançarinos como gelatinas, surgia lindas borboletas amareladas com pequenas manchas vermelhas. Fiquei abobalhada com a imagem que havia se formado diante de meus olhos. Parecia uma pintura, porém real e com minha presença.
Esfreguei meus olhos. Deixei-os contemplando por poucos segundos a escuridão. No entanto, logo os abri e soltei um suspiro. Não sei dizer se foi de decepção ou alívio. Tudo voltou a normalidade de uma tarde de outono. Senti uma brisa fresca, me envolvendo de uma forma contagiante. O fraco brilho do sol iluminava a cidade, mostrando sua intensa beleza, que não precisava ser mostrada como uma ilusão. O seu natural era de uma beleza incomparável com a pintura formada por meus olhos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Enigmas Femininos


Dentre uma multidão barulhenta e irreconhecível com um simples olhar, inúmeras palavras essenciais para a vida de uma comunidade com desejos necessidades em comum. Uma comunidade com segredos escondidos por gerações e mentes incapazes de serem decifradas por sua comunidade oposta ou por membros "incomuns" dela própria, que não compreendem sua própria essência e buscam outros caminhos para não serem comparados com membros semelhantes.

- Você já usou aquele novo creme capilar de óleo de amêndoas? - perguntou uma senhora loira, de estatura baixa, à minha mãe, que estava tingindo o cabelo.
- Claro! Mas eu prefiro o outro que comprei da Dona Letícia. Ele deixa o cabelo mais macio.

Enquanto minhas unhas eram pintadas com uma cor que nunca havia visto na vida, eu tentava compreender os enigmas femininos.
Frisar, escova de chocolate, banho de luzes, esfoliação? Isso existe? Em que mundo eu estou?
Essa linguagem complicada não é compreendida por meu cérebro, que não decifra certas atitudes e palavras do vocabulário feminino.

- Minha querida, você gostaria de fazer californiana no seu lindo cabelo? - Dona Letícia me perguntou, com um sorriso convincente.

Meu olhar parou sobre o de minha mãe, que assentiu com a cabeça.

- Por mim tudo bem. - dei um sorriso forçado.

Chegando em casa, fui me olhar no espelho. Fiquei admirada comigo mesma. Nunca tinha ficado com o cabelo tão bonito e arrumado.

- Gabrielle! Você vai usar o vestido preto com decote e a sandália de salto agulha?

Minha cabeça começou a rodar.
Mesmo não gostando da roupa que minha mãe tinha arrumado para mim, vesti do mesmo jeito, porém reclamando o tempo todo. No fim, acabei colocando um vestido mais "adequado" para o meu gosto, uma sandália mais baixa e passei uma leve maquiagem em meu rosto.
Ao chegar à festa, vi todas as meninas enfeitadas e me senti um pouco envergonhada. Estava pensando em voltar para casa, então dei meia volta, sem olhar direito para trás e acabei esbarrando com um garoto lindo, com incríveis olhos castanhos.

- Você está bem? - ele perguntou preocupado.
- S-s-sim. - gaguejei.
Ele deu um doce sorriso, sendo convincente o suficiente para me fazer ficar na festa mais tempo do que antes eu pretendia.  

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lanternas em meio a noite


Eu estava escutando a chuva cair e escorrer pela janela do meu quarto. Estava deitada na cama, com os pés voltados para baixo. A atmosfera se encontrava calma, mostrando um perfeito lugar para ocupar um pouco do tempo para dormir. Meus olhos começaram a implorar para serem fechados e contemplarem o escuro. Segui suas ordens.
Escutei um estrondo. Pensei que pudesse ser um trovão, mas logo percebi que era pouco provável. Abri os olhos e me deparei com o escuro novamente. Fiquei assustada. O que está acontecendo? Por que as luzes estão apagadas?
Segui andando pelo apartamento. Tudo estava completamente escuro. Não escutei nenhum ruído, nem mesmo vozes ou passos. Onde estão meus pais? Será que me deixaram?
Imaginei que tivesse dado um apagão. Fui para a cozinha, para tentar achar uma lanterna ou uma vela. Encontrei uma vela, mas o fósforo não deu nem sinal de vida. Então desisti e resolvi procurar uma lanterna. Logo encontrei uma, com a cor verde florescente. Com certeza era da minha mãe. Não sabia por que ela guardava as lanternas na cozinha. Bem que podia colocá-las em outro lugar. Mas, isso não teve mais importância.
Andando pelo longo corredor, junto a lanterna, reparei que havia várias portas que estavam fechadas. Não entendi o motivo, porém não me atrevi a abrir. Voltei para a cozinha. Escutei um barulho da porta do corredor do prédio se fechando, fazendo um ruído medonho. Abri a porta da cozinha, que dava para esse corredor. Não vi nada. Também não fiquei assustada. 
Caminhei para o meu quarto e vendo pela janela, reparei que havia pessoas com lanternas, no prédio em frente ao meu. Se não fosse pelas lanternas, não dava para enxergar nem sequer um carro.
Havia até mesmo uma lanterna chinesa, que uma bela senhora estava segurando. As lanternas eram balançadas de um lado para o outro, fazendo um efeito com a luz, de forma incrível. Parecia que todas estavam sincronizadas, acompanhando o ritmo de uma melodia. Estou sonhando? Será que estou acordada mesmo?
Deixei a janela. Então escutei um barulho vindo da sala de estar. Me encaminhei para lá. Porém a porta estava fechada. Mesmo assim, dessa vez, abri sem medo. Meus olhos ficaram admirados com um grande brilho.

- Surpresa!! Feliz Aniversário!! - todos da sala disseram.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dia ensolarado


Sem nada para fazer. Apenas sentada em uma cadeira, com a cabeça apoiada em uma das duas mãos, que estavam sobre a mesa. Sentindo o fraco e gelado vento, vindo da janela da cozinha, tocar suavemente as maçãs de meu rosto. Fiquei apenas pensando em algum lugar, em que eu pudesse ir e fazer algo, para não passar o resto do dia confinada em casa, sozinha entre quatro paredes.

O clima piorou e um intenso frio me atingiu e fez arrepiar cada parte do meu corpo, da mesma forma que ocorreu em um sonho que tive na noite passada. Com aquele frio, eu acabaria pegando um resfriado. Uma janela abriu-se rapidamente e fez um estrondo, que foi seguido do som do vidro se quebrando. Subi as escadas correndo, para ver o estrago. Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou, porém logo senti como se meu sangue tivesse congelado e parado de circular pelo meu corpo. Inesperadamente, uma descarga de raiva parou sobre mim. Eu sabia quem estava por perto. Sentia sua presença e seu detestável cheiro, que afetava meu olfato e me causava certo mal-estar.

Em meio a uma chuva fina que invadiu minha casa, pude ver sua feição de tirar o fôlego. Sua beleza, principalmente seus incríveis e indecifráveis olhos azuis, faziam meu coração bater frenéticamente, de forma inexplicável, o que me irritava muito.

Quando voltei a ficar consciente, comecei a pensar no motivo pelo qual ele estivesse ali, olhando fixamente para mim, com olhos preocupados, entretanto havia algo diferente em seu olhar. Ele começou a andar em minha direção. Como não sabia o que fazer, apenas fiquei parada. Quando chegou bem próximo de mim, me olhou nos olhos e me deu um abraço. Essa atitude inesperada fez meu coração acelerar mais do que de costume. Senti meu rosto corar, pois sabia que naquele momento, ele estava escutando as batidas compulsivas e involuntárias do meu coração.

Se eu o detestava e tinha desprezp por seu cheiro, eu não podia ficar dessa maneira. Não compreendia o que estava acontecendo. Mesmo assim, o que eu mais queria naquele momento, era apenas permanecer em seus braços e sentir seu contagiante aroma, o qual, toda vez em que nos víamos, eu fazia o impossível para detestá-lo, porém meu esforço era sempre em vão. Estando abraçados, eu sentia sua respiração e seu coração pulsando de uma forma incomum.

Estava desnorteada com isso, entretanto, eu queria que esse momento nunca acabasse. Ao lembrar das diversas vezes em que conversamos e ele foi tão doce e amigável comigo, senti certa agonia e raiva de mim mesma, por ter tentado odiá-lo todo aquele tempo. Não queria sentir nada por ele, entretanto não devia ser antipática.

Enquanto fiquei perdida em meus pensamentos, não aproveitei aquele momento o suficiente. Logo ele começou a se afastar um pouco de mim, porém o puxei de volta e o abracei. Senti uma lágrima escorrer com delicadeza por minha face, provavelmente ainda corada. Cheguei bem perto de sua face esquerda, sentindo sua pele suave.

- Me desculpe. - sussurrei, em seguida outra lágrima percorreu minha face.

Paul se moveu um pouco e olhou nos meus olhos molhados. Ele passou sua mão direita suavemente sobre as maçãs de meu rosto. Isso fez meu coração pulsar frenético outra vez, sendo que há pouco ele havia se acalmado. Instintivamente, eu procurei uma forma de esconder meu rosto, porém fui impedida pelo toque de sua mão em minha face. Paul ficou mais próximo de mim, então consegui sentir sua respiração bem perto do meu rosto. Logo seus lábios macios tocaram os meus, me fazendo esquecer de tudo que estava à minha volta. Percebi que eu estava me enganando o tempo todo. Ele era o meu dia ensolarado.

Entre estrelas


Caminhando entre estrelas
Seu olhar contempla
A distante alvorada
Que a pouco estava
A iluminar
A imensidão cristalina
Sobre sua alma albina

Entre as rosas vermelhas
Vejo seu olhar
Que ao encontro do meu
Resplandece em meio ao luar

Por que...


Por que não me diz

Que mesmo junto a ti

Não reside a esperança

Mas sim, talvez a cobrança

Que em seu deleite

Chora em prantos

Além dos meus olhos

Após morrera morte
O que será feito de mim?
Irei pairar pela terra
E amedrontar
Os que me afrontam?

Nenhuma luz
Nem sequer expectativa
Sem saber
O que me espera
No desconhecido

Indo além do mar
Sem fronteiras
Que nunca conheci
Nada além do que vejo
Apenas poeira

Uma doce voz
Foi captada
Por meus doentes ouvidos
Não enxergava quem falava
Porém a escutava com atenção

Será que nesse alguém
Apenas há lastima
De um pobre condenado?
Sendo proposital
Ou um ser caridoso?

Seus traços me guiaram
Sobre a intensa escuridão
Que como um velho coitado
Nem sequer sabia
Onde estava

Sua voz me acalmou
E assim pude
Descansar em meu leito
Sem temer o que não conheço
Com a volta do manto negro

Possível afeto


Se já não bastasse o barulho infernal, ainda tinha que acompanhar o garoto que teoricamente arruinou minha vida. Parecia maravilhado com a movimentação nas ruas e só me dizia coisas , que por mim eram consideradas irrelevantes e inconfundivelmente tolas.

A cada passo dado aparentemente o barulho aumentava e começava a me ensurdecer. Me senti mal, a ponto de desmaiar e fiquei com uma vontade incontrolável de chorar. Sem dúvida estava acontecendo algo, mas eu não podia fazer nada. Era tarde demais.

Mal tinha percebido, que eu havia parado no meio do caminho e Paul estava me olhando apavorado e dizendo algo, que apenas depois de várias tentativas consegui entender
- Você está bem? - ele perguntou com um tom estranho em sua voz.
Balancei a cabeça em resposta.

Sua expressão se suavizou, porém seus olhos ainda estavam penetrantes e ainda preocupados. Algo me fazia arrepiar, entretanto, o ar estava quente e o céu estava como um mar sem peixes.

Senti uma intensa vontade de sair correndo, mesmo não sabendo para onde ir. Me desliguei do meu mundo por alguns segundos, pois Paul logo tentou chamar minha atenção e me encarou com seus incríveis olhos azuis cristalinos, como a cor de uma água oceânica, prestes a me invadir.

Involuntariamente o abracei. Nunca imaginei que um dia faria isso. Pensei que ele se afastaria de mim ou me empurraria delicadamente para não ser rude em um momento como esse, porém aconteceu algo surpreendente. Ele não rejeitou meu abraço, e sim me envolveu suavemente em seus braços e eu encostei minha cabeça em seu ombro, já que temos uma certa diferença de tamanho. Me senti segura e reconfortada. As lágrimas não deslizaram pelo meu rosto, pois fiz o impossível para segurá-las. Tinha que ser forte e não ficar frágil como um vidro, que se derrubado, se quebra em mil pedaços.

Nunca pensei que Paul iria fazer algo assim, talvez como uma demonstração de afeto ou de que eu tivesse alguma importância para ele. Apenas aproveitei o momento, porém, talvez, eu estava delirando demais, ao pensar nessas possibilidades.

Sonho ou realidade? [Parte 3]


Quando senti um enorme peso sobre meu corpo, já havia compreendido que eu já estava em meu maior pesadelo. Aos poucos consegui enxergar o que havia naquela imensidão. Percebi que havia algo que brilhava, e sendo assim, de um tanto me hipnotizava. Segui em direção as profundezas, até que me deparei com algo surpreendente. O fundo era constituído por um infinito e espesso tapete de diamantes, que mostravam sua beleza com intensidade. Estando impressionada e ao mesmo tempo incrédula, me senti obrigada a tocar naquele tapete. Com um simples toque, a palma de minha mão tornou a arder e uma pequena mancha vermelha passou por mim. De forma inesperada, vultos negros apareceram e passaram a girar à minha volta, tornando meu pânico ainda maior. Ao pararem, consegui definir suas formas, que pareciam as de um ser humano normal, mas continuei acreditando que as aparências enganam.

Um garoto que estava entre aqueles seres, se aproximou de mim, me deixando imóvel e tocou suavemente meu rosto. Seu toque foi tão suave que parecia o vento inexistente me acariciando. Seus olhos avermelhados me lembraram da dor de ser acorrentada por uma árvore. Logo apenas pude ver uma escura imensidão. O fim estava à minha espera, preparado para me acolher.

Ao abrir meus olhos, a luz do sol e o canto dos pássaros, me acordaram para a realidade. Me senti aliviada por ter sido apenas um terrível pesadelo e por estar viva. Levantei para seguir pelo caminho do qual sabia que deveria seguir. Entretanto, nesse exato momento, senti a palma de minha mão arder fortemente.

Sonho ou realidade? [Parte 2]


Em um determinado momento, desisti de tentar enxergar com clareza, portanto encostei em uma árvore que estava próxima, já que estava muito cansada. Nesse exato momento vi um vulto negro passando rapidamente por mim. Meus sentidos se alarmaram e o pânico me invadiu. Ouvi o uivo de lobos, ecoando dentro da floresta. Em uma fração de segundos, meu corpo foi puxado com violência para mais perto da árvore. Eu estava sendo impedida de me mover, pois estava acorrentada por algo que não consegui definir. Cada vez mais ficava mais difícil respirar e devido a isso, não tinha força para me libertar das correntes que me sufocavam. À medida que meu ar escapava, a escuridão me inundava. Quando pensei que o caminho entre os espinhos estava à minha espera, me senti sendo atirada de forma brusca no chão. Um fraco suspiro de alívio foi solto por meu corpo, que no momento estava um tanto debilitado. Com as mãos encostadas na terra úmida, senti um intenso frio que passou a me dominar.

Ainda com os olhos fechados, ouvi o som de passos cautelosos e uma respiração ruidosa. Logo um silêncio intenso pairou, porém por poucos segundos. Ao erguer minha cabeça e abrir meus olhos, que naquele momento lacrimejavam, devido a dor, vi a imagem embaçada de algo que estava à minha frente. Quando consegui enxergar de forma nítida, tornei a ficar imóvel. O sangue em minha veias havia parado de circular e o ar passou a escapar. Haviam três lobos enormes, com seus amedrontadores dentes e olhos avermelhados. Conseguia sentir suas respirações próximas a mim e talvez tinha decifrado, com um rápido raciocínio, o que estava escrito em seus olhos. Logo, o calor voltou ao meu corpo, portanto levantei-me rapidamente e passei a correr, mesmo estando debilitada.

Como havia imaginado, os lobos estavam atrás de mim, correndo com uma veloz rajada de vento. Mesmo tentando me concentrar para ver aonde eu estava indo, não consegui, pois meus pensamentos se dispersaram, me fazendo voltar a frustrantes acontecimentos. Parecia que era proposital. Havia algo ou alguém que estava fazendo isso comigo. Essa tortura não parava, até que senti algo que me segurou e fez meu coração se descontrolar. Em um segundo, quando vi, estava no ar, em cima de um rio obscuro, do qual estava prestes a cair.   

Sonho ou realidade? [Parte 1]


A fria imensidão que me rodeava, estava dominada pelo silêncio. Caminhando sobre a grama molhada por gotículas cristalinas do anoitecer, escutava meus próprios passos, meus tênis roçando no tapete esverdeado, além de ouvir o som do profundo vazio, em um lugar tão complexo, entretanto, ao mesmo tempo tão simples e sereno. Ao passo que ia seguindo um caminho sem volta, o sono traiçoeiro tentava me dominar. Estava ficando cada vez mais difícil continuar sem rumo. Após uma intensa batalha que ocorreu dentro de mim, finalmente deixe-me ser invadida por meu inimigo, caindo num sono profundo, encostada a uma árvore úmida pelo sereno.

Iniciou-se a sessão de cinema. Após um período de cegueira, imagens começaram a aparecer. Parecia que eu estava na mesma floresta, na qual eu havia dormido, porém eu estava acompanhando o início da alvorada. Mais uma vez tornei a caminhar. Percebi a diferença entre meu antigo mundo e o que no momento eu estava. Tudo parecia bonito e iluminado, era normal, porém não era um ambiente que deixaria qualquer um sem ânimo ou que as faria começar a ter alucinações.

Fiquei imaginando se me depararia com um monstro gigante ou talvez com personagens de filmes de ficção ou coisas do gênero. Mas depois de tanto caminhar e ver que não havia nada além de plantas e um riacho, não havi nem sinal de animais ou mesmo pessoas, fiquei decepcionada. Mas ao menos estava soziha, não havia ninguém para me incomodar, nem dizer o que devia fazer ou não fazer ou que invés de ficar em cima de livros, deveria sair o tempo todo.

Continuei caminhando entre as árvores, sentindo meus pés andarem sobre um solo, do qual não sentia firmeza e que parecia que a qualquer momento eu afundaria. O tempo foi passando e minha agonia foi aumentando. Sem sinal de vida por onde passei. Parecia que eu estava dentro de um filme de terror. Senti meu estômago reclamar e meu corpo começar a fraquejar. Mesmo me sentindo exausta, não parei sequer um segundo de caminhar.

Pelo que deduzi já haviam se passado horas, pois na floresta já estava relativamente escuro e tudo estava numa intensa neblina, impedindo que eu conseguisse ter uma melhor visão, de onde eu estava.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pensamentos



Pensar é algo que pode ser bom, mas ficar perdida em pensamentos em muitos momentos, já não poderia dizer que é algo bom. Ás vezes as criações feitas por nossa imaginação servem como forma de escapar do louco mundo, do qual vivemos.

Presenciamos e vivemos bons momentos, damos grandes sorrisos e sentimo-nos como se estivéssemos abraçados pela sorte. Porém a momentos em que tudo parece tão irreal, mesmo sendo o que dizem ser concreto e verdadeiro. Lágrimas percorrem por nossas faces, desempedidas, ou tentam aprisioná-las. Ás vezes nos sentimos sozinhos e nos perguntamos "Por que as coisas tinham que mudar?". Quando determinadas coisas ocorrem, nos revoltamos, mostrando a raiva que percorre viva em nossas veias, choramos, gritamos e ficamos inconformados. Mas também há aqueles que simplesmente aguentam a dor em silêncio, já que às vezes não querem compartilhá-la com ninguém, pois não querem que se preocupem ou talvez pelo fato de não terem alguém que possa te ouvir e ficar do seu lado.

Marcas de dor e de tristeza permanecem, mas as marcas de grande alegrias ou até pequenos momentos que nos fizeram muito feliz, que nos reconfortam, também ficam marcados para sempre, e estes podem ser aqueles que serão mais um dos motivos para estarmos aqui e seguirmos nossa caminhada, que às vezes pode parecer inútil e insignificante, entranto ela é algo de precioso, que não se pode desperdiçar.

Nossos pensamentos podem ser guardados apenas para nós mesmos, mas também podem ser expostos. Neles estão nossos segredos, opiniões, lembranças e medos. Talvez neles estejam o nosso eu verdadeiro, que algumas ou muitas vezes, acabamos ocultando-o, talvez por medo ou vergonha. Mas se quisermos, apenas com um simples ato podemos expressar da melhor forma nossos pensamentos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Eternidade


A distância nos separa e as letras ao redor, não me fazem cair em um leve sono. Apenas estando perdida em pensamentos indesejáveis, a dor aumenta causando um intenso tormento inquieto, que transparece ao olhar para a feição dos que acabaram de chegar.

Suas cartas foram rasgadas e deixadas para trás, para que o vento levasse seus pedaços. Com isso comecei a perder o medo de me encarar em frente ao espelho e atravessá-lo se necessário.

O tempo vai passando e tudo ao redor envelhece, porém nunca perde o brilho, nem mesmo seu sorriso encantador. Apesar de um dia partir, o vento sempre lembra de soprar seu nome, deixando sua marca pela eternidade.

Vazio


Dúvidas me perseguem


E há uma caçada


Interminável


Pelo o que mais prezo


Nessa caminhada




O que irá acontecer


Se não consigo parar de escrever?


Rimas formando a estrutura


De um provável poema


Que por ser complexo


E no papel estar anexo


Não é possível sua compreensão


Portanto seu fim é em vão

Doce melodia


Seu cheiro me desperta


Sua imagem me provoca


Seu som soa


Como uma doce melodia


Seu olhar


Ao encontro do meu


Faz o tempo parar


Em meio a uma multidão


Percebo


O único


Que provoca


Minha transformação

Sob o olhar


A ligação
Entre duas folhas
Se desfaz
Sob o olhar
De olhos doentes
Que mal podem
Presenciar
Um acontecimento
Tão esperado

domingo, 9 de maio de 2010

Quem é aquela?


Afinal quem é aquela


Que te faz sorrir


Te faz sonhar


Te faz enxergar


O que você não vê




Quem é aquela


Que você vê todos os dias


Ou já viu


Ou se lembra de alguma forma


Sempre com carinho




Lembra-se dela


Fazendo de tudo


Por você


Te mostrando o mundo


Ao amanhecer




Quando cai


Ela te levanta


Quando chora


Ela te faz sorrir


Tudo por você




Quem é aquela


Que te apoia


Mas também


Te mostra o caminho certo


Fala o que você deve ouvir




Quem é aquela


Que te ama


E com apenas três letras


Pode-se dizer


M-Ã-E





quarta-feira, 21 de abril de 2010

Trilhos do trem



Apenas sentia o balançar, que fazia com que minhas pálpebras se cansassem, querendo mergulhar em meio a escuridão e ao silêncio, que ali lhe era aguardado. Usava todas as minhas forças para me manter à luz, porém essa era uma tarefa difícil a ser cumprida. Todavia quando comecei a prestar atenção aos inúmeros sons que ali se faziam, tanto perto quanto longe, não olhei mais os delicados e negros "fios", os quais estavam sob o meu olhar há boas horas, e sempre me acompanharam e minha longa caminhada.

Ouvia pessoas sussurando, pares de xícaras dançando em cima de uma mesa, o som do movimento do vagão sobre os trilhos e o detestável som de minha respiração. Porém não tenho culpa se peguei um resfriado, graças a alta temperatura que se faz fora do vagão.

Após um longo tempo de viagem, finalmente o trem havia parado e um intenso e interminável silêncio havia inundado o ambiente, no qual eu estava. Peguei minha bagagem e parti em direção a porta, entretanto, quando realmente olhei para fora, me deparei com um deserto em branco e fui invadida pela agonia.

Da maneira que estava iria ficar. Parada em frente a porta, dentro do trem, porém senti meu corpo ser lançado para fora. Senti o frio penetrar em mim e a neve macia, que estava sob mim. Abri um pequeno sorriso e vi o trem partindo em meio ao nada, apenas seguindo seu curso e dando uma pequena ajuda.