quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Fim do dia
Eu estava exausta. Tive um longo e cansativo dia de trabalho. A única coisa que eu mais queria era chegar em casa e cair num sono tranquilo. Durante parte de minha tarde ouvi minhas colegas caçoando de mim por eu ser a mais nova. Pessoas não pararam de me dar ordens. Meus pés caminharam de um lado para o outro, às vezes quase sem interrupição. Porém eu precisava do trabalho. Além disso, ainda tive que dar de cara com a má sorte. Com passos descuidos acabei pisando em algo desagradável na calçada, recebi um presentinho de um pombo e ainda tentaram me roubar quando eu me encontrava na estação de trem.
Por fim, decidi passar em uma praça para esfriar a cabeça, antes de ir para casa. Já não tinha mais esperançaas de ao menos ter o término do dia com algo que pudesse me fazer esquecer dos acontecimentos trazidos pela minha falta de sorte.
Houve um momento em que me deparei com uma linda boneca, que se encontrava no chão. Não hesitei em pegá-la. Com isso, continuei caminhando, tentando imaginar que havia uma garotinha que deveria estar procurando pela boneca. Ao longe ouvi um choro, que me chamou a atenção. Dando passos um pouco rápidos encontrei uma criança agarrada a perna de uma mulher, que deduzi ser sua mãe. De alguma forma, percebi que eu sabia o motivo daquela tristeza. Agachei-me. A mulher tornou-se alerta, porém mostrei a boneca para ela, que me permitiu seguir em frente.
- Por acaso essa boneca é sua? - perguntei em um doce tom.
Seu olhar voltou-se para mim. Seus olhos brilharam e logo pude ver em seu rostinho, um sorriso tão belo que me encheu de alegria.
Afinal, meu dia não foi tão ruim.
Voltei para casa, também com um grande entusiasmo.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Mundo sem tempo
Caminhando com passos curtos, passei pela pequena e quase deserta vila, que atraia os olhos dos tolos. Sua aparência rústica em meio à modernidade, chamava a atenção, principalmente durante à noite, que era quando mostrava sua face animadora, que parecia ser a verdadeira.
Durante o dia mostrava-se quieta, aparentando não ter nenhuma alma viva. Apenas podia-se ouvir o som de um pequeno gato, com as listras de uma zebra, que sempre pedia atenção, procurando receber algum carinho de alguém que por milagre tivesse um tempo livre.
Nessa cidade quase não há pessoas, que tenham ao menos alguns minutos livres, todos os dias. Talvez não seja à toa, que ela se chama Anti-free. Para mim esse nome fazia muito sentido, entretanto para a grande maioria, isso não possuía significado algum. Considerava todos uns fantoches do mundo. Sentia-me uma sortuda por não precisar compartilhar o meu mundo verdadeiro.
Meus pés levaram-me para minha pequena casa, que se encontrava um tanto afastada da cidade. Nela me sentia confortável e os sons da modernidade eram quase inaldíveis. Sentada em uma deselegante poltrana esverdeada, eu esperava uma visita, que ao ver já estava atrasada fazia uma semana. Não sentia pena dessa visita, já que meu coração era mais bondoso que o de minha mãe, que já teria ido a procura de sua visita e lhe teria arrancado sua cabeça insignificante, como minha própria mãe dizia. Dava graças, por ela não estar mais morando junto a mim. Com minha insistência, me deixou vir para esse mundo sozinha, enquanto ela teve que permanecer no mundo, em que vivi durante mais de cinquenta anos. Apesar de não me sentir muito à vontade nesse mundo sem tempo, ao menos parecia uma garota de dezesseis anos. Isso me agradava muito, fazendo-me abrir um meigo e tímido sorriso, disfarçando meus objetivos com essa beleza adolescente.
Dim-dom.
Levantei-me, indo abrir a porta para minha visita.
- Olá, minha querida!
- Oi, tia. - disse com maior desânimo, que estivesse ao meu alcance, tentando não mostrar minha desconfiança.
Seus olhos se estreitaram, porém logo relaxaram.
- Como está sendo sua vida aqui?
- Boa. Mas não há muito o que fazer.
- Por que você não volta para casa?
- Ainda tenho algumas obrigações a cumprir aqui.
- Entendo.
À noite, a deixei dormindo em um dos quartos de hóspedes. Troquei de roupa e tentei sair, sem que eu a acordasse. Ao girar a maçaneta, percebi que estava como uma pedra e de forma esperada, sua elevada temperatura queimou minha mão. Já desconfiava que meu plano não daria certo.
- Aonde você pensa que vai... Filha? - minha mãe apareceu no último degrau de minha escada de madeira.
- Mãe. Você não sabe nem disfarçar. Continua sendo uma péssima atriz. Achou que eu não ia perceber? - perguntei com um intenso sarcasmo.
- Corta! Está perfeito. - disse um homem, que estava segurando uma câmera, em uma das janelas da sala.
Uma expressão de profunda incredulidade dominou-me.
- Te peguei. - disse minha mãe, entre risos medonhos. - Achou que dessa vez você iria me pegar?
Não acreditei no que vi. Fui enganada por minha própria mãe. Pensei que como sempre, ela iria tentar me levar de volta ao nosso mundo, mas fui completamente enganada. Sem lutas, sem absolutamente nada.
- Minha querida, achei o quarto muito confortável. Você não se sentirá mais sozinha. Não é mesmo, senhor Gad? - seus olhos caíram para o homem com a câmera, que em poucos segundos, se transformou no gato com listras de zebra.
Pensei comigo mesma: pobre gato sem tempo.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Café da manhã
Hoje presenciei um pequeno acidente no café da manhã.
Levantei ainda com sono e com uma extrema vontade de voltar para a minha cama. O engraçado é que mesmo estando cansada, antes do despertador tocar, eu já estava acordada. Com isso, acabei lembrando de muitos amigos meus, que sempre dormem durante as aulas, pois dormem tarde, porque querem, ou pelo simples fato, de que não conseguem dormir muito bem durante uma boa parte da noite. Parece que nosso cérebro fica ativo o tempo todo com sonhos, lembranças, pensamentos, preocupações. Mas... continuando sobre o café da manhã...
Quando estava caminhando pelo corredor, escutei alguns sons, que vinham da cozinha. Achei isso muito estranho e exatamente por isso avancei mais rapidamente para a cozinha. Talvez ainda eu não estivesse suficientemente acordada. Ao girar a maçaneta, abrindo a porta, me deparei com alguém... Meus olhos se arregalaram, principalmente ao ver uma enorme mancha e respingos, que invadiram até mesmo, uma das paredes.
Reparei no café derramado pela cozinha e percebi que aquele acidente tinha sido bem feio. Olhei para a certa pessoa, que se encontrava na cozinha. Ela me lançou um olhar de decepção, devido ao acidente. Perguntei a ela, se queria ajuda. Ela agradeceu, porém recusou, pois me disse para tomar meu café da manhã, se não eu iria me atrasar para a escola. Apenas assenti com a cabeça.
Enquanto comia, fiquei observando quando ela passou a limpar o chão, com um rodo, acompanhado de um pano. Eu quase nunca a via com um rodo. Na verdade, praticamente não vejo ninguém passando um rodo no chão. Nem mesmo na televisão. Com tanta tecnologia, a grande maioria das pessoas acaba escolhendo os meios mais práticos para limpeza e acabam se esquecendo dos meios antigos, que às vezes continuam sendo mais eficazes do que os atuais.
Quando vejo pessoas com um rodo, geralmente são empregadas domésticas, ou pessoas que trabalham com a limpeza.
Acabei pensando em uma pergunta, que me pareceu um tanto curiosa: Quantos jovens de hoje, já passaram pelo menos uma vez, um rodo no chão?
Penso que, talvez muitos ou poucos. Uma vez, talvez a grande maioria já deve ter usado um rodo. Porém usá-lo várias outras vezes, é mais provável que a maioria dos jovens não esteja incluída.
A única coisa que posso dizer, é que aquele rodo me fez pensar sobre a enorme aceitação do novo e o desprezo do que é antigo.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Provocadora imaginação
Querido Amigo,
Não sei o que lhe dizer. Apenas gostaria de mostrar o que há por dentro de uma caixa escondida, num lugar tão profunfo, que nem mesmo a areia mais fina poderia tocar.
Entre as nuvens do céu, posso ver seu rosto. Sob a chuva, vejo seu reflexo. Com o vento sinto sua presença. Não sei o que há comigo. Talvez uma provocadora imaginação, que momentaneamente deturpa meus pensamentos, ou, talvez, só talvez, tudo o que vejo é tão real, que posso sentir da forma mais pura de um coração.
Tantos sorrisos. Tantos abraços. Brincadeiras de uma memorável infância. Às vezes me pergunto, o por quê sinto como se você estivesse tão longe, porém, ao mesmo tempo, tão perto. As contradições não me libertam, porém sem elas não vivo. O doce sentimento imaginativo não sou capaz de abandonar. Por trás das lembranças, talvez exista algo a mais, que não consigo enxergar, estando com os olhos vendados por meu engano. Algum sentimento disfarçado pode haver. Mas para mim, não é possível dizer. Apenas digo... Quero te ver ao entardecer.
Com carinho,
de sua...
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Cores de uma vida
Imaginei tudo ao meu redor com cores diferentes das quais se mostravam. Meus olhos provocaram uma ilusão à minha frente, que ao mesmo tempo era real. As árvores não eram mais verde e marrom. Estavam com uma cor rosada, fazendo-me lembrar de um enorme algodão doce. O asfalto se encontrava em um tom azulado e ao andar nele, parecia que havia água abaixo de seus pés. Dos prédios dançarinos como gelatinas, surgia lindas borboletas amareladas com pequenas manchas vermelhas. Fiquei abobalhada com a imagem que havia se formado diante de meus olhos. Parecia uma pintura, porém real e com minha presença.
Esfreguei meus olhos. Deixei-os contemplando por poucos segundos a escuridão. No entanto, logo os abri e soltei um suspiro. Não sei dizer se foi de decepção ou alívio. Tudo voltou a normalidade de uma tarde de outono. Senti uma brisa fresca, me envolvendo de uma forma contagiante. O fraco brilho do sol iluminava a cidade, mostrando sua intensa beleza, que não precisava ser mostrada como uma ilusão. O seu natural era de uma beleza incomparável com a pintura formada por meus olhos.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Enigmas Femininos
- Você já usou aquele novo creme capilar de óleo de amêndoas? - perguntou uma senhora loira, de estatura baixa, à minha mãe, que estava tingindo o cabelo.
- Claro! Mas eu prefiro o outro que comprei da Dona Letícia. Ele deixa o cabelo mais macio.
Enquanto minhas unhas eram pintadas com uma cor que nunca havia visto na vida, eu tentava compreender os enigmas femininos.
Frisar, escova de chocolate, banho de luzes, esfoliação? Isso existe? Em que mundo eu estou?
Essa linguagem complicada não é compreendida por meu cérebro, que não decifra certas atitudes e palavras do vocabulário feminino.
- Minha querida, você gostaria de fazer californiana no seu lindo cabelo? - Dona Letícia me perguntou, com um sorriso convincente.
Meu olhar parou sobre o de minha mãe, que assentiu com a cabeça.
- Por mim tudo bem. - dei um sorriso forçado.
Chegando em casa, fui me olhar no espelho. Fiquei admirada comigo mesma. Nunca tinha ficado com o cabelo tão bonito e arrumado.
- Gabrielle! Você vai usar o vestido preto com decote e a sandália de salto agulha?
Minha cabeça começou a rodar.
Mesmo não gostando da roupa que minha mãe tinha arrumado para mim, vesti do mesmo jeito, porém reclamando o tempo todo. No fim, acabei colocando um vestido mais "adequado" para o meu gosto, uma sandália mais baixa e passei uma leve maquiagem em meu rosto.
Ao chegar à festa, vi todas as meninas enfeitadas e me senti um pouco envergonhada. Estava pensando em voltar para casa, então dei meia volta, sem olhar direito para trás e acabei esbarrando com um garoto lindo, com incríveis olhos castanhos.
- Você está bem? - ele perguntou preocupado.
- S-s-sim. - gaguejei.
Ele deu um doce sorriso, sendo convincente o suficiente para me fazer ficar na festa mais tempo do que antes eu pretendia.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Lanternas em meio a noite
Escutei um estrondo. Pensei que pudesse ser um trovão, mas logo percebi que era pouco provável. Abri os olhos e me deparei com o escuro novamente. Fiquei assustada. O que está acontecendo? Por que as luzes estão apagadas?
Segui andando pelo apartamento. Tudo estava completamente escuro. Não escutei nenhum ruído, nem mesmo vozes ou passos. Onde estão meus pais? Será que me deixaram?
Imaginei que tivesse dado um apagão. Fui para a cozinha, para tentar achar uma lanterna ou uma vela. Encontrei uma vela, mas o fósforo não deu nem sinal de vida. Então desisti e resolvi procurar uma lanterna. Logo encontrei uma, com a cor verde florescente. Com certeza era da minha mãe. Não sabia por que ela guardava as lanternas na cozinha. Bem que podia colocá-las em outro lugar. Mas, isso não teve mais importância.
Andando pelo longo corredor, junto a lanterna, reparei que havia várias portas que estavam fechadas. Não entendi o motivo, porém não me atrevi a abrir. Voltei para a cozinha. Escutei um barulho da porta do corredor do prédio se fechando, fazendo um ruído medonho. Abri a porta da cozinha, que dava para esse corredor. Não vi nada. Também não fiquei assustada.
Caminhei para o meu quarto e vendo pela janela, reparei que havia pessoas com lanternas, no prédio em frente ao meu. Se não fosse pelas lanternas, não dava para enxergar nem sequer um carro.
Havia até mesmo uma lanterna chinesa, que uma bela senhora estava segurando. As lanternas eram balançadas de um lado para o outro, fazendo um efeito com a luz, de forma incrível. Parecia que todas estavam sincronizadas, acompanhando o ritmo de uma melodia. Estou sonhando? Será que estou acordada mesmo?
Deixei a janela. Então escutei um barulho vindo da sala de estar. Me encaminhei para lá. Porém a porta estava fechada. Mesmo assim, dessa vez, abri sem medo. Meus olhos ficaram admirados com um grande brilho.
- Surpresa!! Feliz Aniversário!! - todos da sala disseram.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Dia ensolarado
O clima piorou e um intenso frio me atingiu e fez arrepiar cada parte do meu corpo, da mesma forma que ocorreu em um sonho que tive na noite passada. Com aquele frio, eu acabaria pegando um resfriado. Uma janela abriu-se rapidamente e fez um estrondo, que foi seguido do som do vidro se quebrando. Subi as escadas correndo, para ver o estrago. Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou, porém logo senti como se meu sangue tivesse congelado e parado de circular pelo meu corpo. Inesperadamente, uma descarga de raiva parou sobre mim. Eu sabia quem estava por perto. Sentia sua presença e seu detestável cheiro, que afetava meu olfato e me causava certo mal-estar.
Em meio a uma chuva fina que invadiu minha casa, pude ver sua feição de tirar o fôlego. Sua beleza, principalmente seus incríveis e indecifráveis olhos azuis, faziam meu coração bater frenéticamente, de forma inexplicável, o que me irritava muito.
Quando voltei a ficar consciente, comecei a pensar no motivo pelo qual ele estivesse ali, olhando fixamente para mim, com olhos preocupados, entretanto havia algo diferente em seu olhar. Ele começou a andar em minha direção. Como não sabia o que fazer, apenas fiquei parada. Quando chegou bem próximo de mim, me olhou nos olhos e me deu um abraço. Essa atitude inesperada fez meu coração acelerar mais do que de costume. Senti meu rosto corar, pois sabia que naquele momento, ele estava escutando as batidas compulsivas e involuntárias do meu coração.
Se eu o detestava e tinha desprezp por seu cheiro, eu não podia ficar dessa maneira. Não compreendia o que estava acontecendo. Mesmo assim, o que eu mais queria naquele momento, era apenas permanecer em seus braços e sentir seu
Estava desnorteada com isso, entretanto, eu queria que esse momento nunca acabasse. Ao lembrar das diversas vezes em que conversamos e ele foi tão doce e amigável comigo, senti certa agonia e raiva de mim mesma, por ter tentado odiá-lo todo aquele tempo. Não queria sentir nada por ele, entretanto não devia ser antipática.
Enquanto fiquei perdida em meus pensamentos, não aproveitei aquele momento o suficiente. Logo ele começou a se afastar um pouco de mim, porém o puxei de volta e o abracei. Senti uma lágrima escorrer com delicadeza por minha face, provavelmente ainda corada. Cheguei bem perto de sua face esquerda, sentindo sua pele suave.
- Me desculpe. - sussurrei, em seguida outra lágrima percorreu minha face.
Paul se moveu um pouco e olhou nos meus olhos molhados. Ele passou sua mão direita suavemente sobre as maçãs de meu rosto. Isso fez meu coração pulsar frenético outra vez, sendo que há pouco ele havia se acalmado. Instintivamente, eu procurei uma forma de esconder meu rosto, porém fui impedida pelo toque de sua mão em minha face. Paul ficou mais próximo de mim, então consegui sentir sua respiração bem perto do meu rosto. Logo seus lábios macios tocaram os meus, me fazendo esquecer de tudo que estava à minha volta. Percebi que eu estava me enganando o tempo todo. Ele era o meu dia ensolarado.
Entre estrelas
Seu olhar contempla
A distante alvorada
Que a pouco estava
A iluminar
A imensidão cristalina
Sobre sua alma albina
Entre as rosas vermelhas
Vejo seu olhar
Que ao encontro do meu
Resplandece em meio ao luar
Por que...
Que mesmo junto a ti
Não reside a esperança
Mas sim, talvez a cobrança
Que em seu deleite
Chora em prantos
Além dos meus olhos
Após morrera morte
O que será feito de mim?
Irei pairar pela terra
E amedrontar
Os que me afrontam?
Nenhuma luz
Nem sequer expectativa
Sem saber
O que me espera
No desconhecido
Indo além do mar
Sem fronteiras
Que nunca conheci
Nada além do que vejo
Apenas poeira
Uma doce voz
Foi captada
Por meus doentes ouvidos
Não enxergava quem falava
Porém a escutava com atenção
Será que nesse alguém
Apenas há lastima
De um pobre condenado?
Sendo proposital
Ou um ser caridoso?
Seus traços me guiaram
Sobre a intensa escuridão
Que como um velho coitado
Nem sequer sabia
Onde estava
Sua voz me acalmou
E assim pude
Descansar em meu leito
Sem temer o que não conheço
Com a volta do manto negro
O que será feito de mim?
Irei pairar pela terra
E amedrontar
Os que me afrontam?
Nenhuma luz
Nem sequer expectativa
Sem saber
O que me espera
No desconhecido
Indo além do mar
Sem fronteiras
Que nunca conheci
Nada além do que vejo
Apenas poeira
Uma doce voz
Foi captada
Por meus doentes ouvidos
Não enxergava quem falava
Porém a escutava com atenção
Será que nesse alguém
Apenas há lastima
De um pobre condenado?
Sendo proposital
Ou um ser caridoso?
Seus traços me guiaram
Sobre a intensa escuridão
Que como um velho coitado
Nem sequer sabia
Onde estava
Sua voz me acalmou
E assim pude
Descansar em meu leito
Sem temer o que não conheço
Com a volta do manto negro
Possível afeto
Se já não bastasse o barulho infernal, ainda tinha que acompanhar o garoto que teoricamente arruinou minha vida. Parecia maravilhado com a movimentação nas ruas e só me dizia coisas , que por mim eram consideradas irrelevantes e inconfundivelmente tolas.
A cada passo dado aparentemente o barulho aumentava e começava a me ensurdecer. Me senti mal, a ponto de desmaiar e fiquei com uma vontade incontrolável de chorar. Sem dúvida estava acontecendo algo, mas eu não podia fazer nada. Era tarde demais.
Mal tinha percebido, que eu havia parado no meio do caminho e Paul estava me olhando apavorado e dizendo algo, que apenas depois de várias tentativas consegui entender
- Você está bem? - ele perguntou com um tom estranho em sua voz.Balancei a cabeça em resposta.
Sua expressão se suavizou, porém seus olhos ainda estavam penetrantes e ainda preocupados. Algo me fazia arrepiar, entretanto, o ar estava quente e o céu estava como um mar sem peixes.
Senti uma intensa vontade de sair correndo, mesmo não sabendo para onde ir. Me desliguei do meu mundo por alguns segundos, pois Paul logo tentou chamar minha atenção e me encarou com seus incríveis olhos azuis cristalinos, como a cor de uma água oceânica, prestes a me invadir.
Involuntariamente o abracei. Nunca imaginei que um dia faria isso. Pensei que ele se afastaria de mim ou me empurraria delicadamente para não ser rude em um momento como esse, porém aconteceu algo surpreendente. Ele não rejeitou meu abraço, e sim me envolveu suavemente em seus braços e eu encostei minha cabeça em seu ombro, já que temos uma certa diferença de tamanho. Me senti segura e reconfortada. As lágrimas não deslizaram pelo meu rosto, pois fiz o impossível para segurá-las. Tinha que ser forte e não ficar frágil como um vidro, que se derrubado, se quebra em mil pedaços.
Nunca pensei que Paul iria fazer algo assim, talvez como uma demonstração de afeto ou de que eu tivesse alguma importância para ele. Apenas aproveitei o momento, porém, talvez, eu estava delirando demais, ao pensar nessas possibilidades.
Sonho ou realidade? [Parte 3]
Um garoto que estava entre aqueles seres, se aproximou de mim, me deixando imóvel e tocou suavemente meu rosto. Seu toque foi tão suave que parecia o vento inexistente me acariciando. Seus olhos avermelhados me lembraram da dor de ser acorrentada por uma árvore. Logo apenas pude ver uma escura imensidão. O fim estava à minha espera, preparado para me acolher.
Ao abrir meus olhos, a luz do sol e o canto dos pássaros, me acordaram para a realidade. Me senti aliviada por ter sido apenas um terrível pesadelo e por estar viva. Levantei para seguir pelo caminho do qual sabia que deveria seguir. Entretanto, nesse exato momento, senti a palma de minha mão arder fortemente.
Sonho ou realidade? [Parte 2]
Em um determinado momento, desisti de tentar enxergar com clareza, portanto encostei em uma árvore que estava próxima, já que estava muito cansada. Nesse exato momento vi um vulto negro passando rapidamente por mim. Meus sentidos se alarmaram e o pânico me invadiu. Ouvi o uivo de lobos, ecoando dentro da floresta. Em uma fração de segundos, meu corpo foi puxado com violência para mais perto da árvore. Eu estava sendo impedida de me mover, pois estava acorrentada por algo que não consegui definir. Cada vez mais ficava mais difícil respirar e devido a isso, não tinha força para me libertar das correntes que me sufocavam. À medida que meu ar escapava, a escuridão me inundava. Quando pensei que o caminho entre os espinhos estava à minha espera, me senti sendo atirada de forma brusca no chão. Um fraco suspiro de alívio foi solto por meu corpo, que no momento estava um tanto debilitado. Com as mãos encostadas na terra úmida, senti um intenso frio que passou a me dominar.
Ainda com os olhos fechados, ouvi o som de passos cautelosos e uma respiração ruidosa. Logo um silêncio intenso pairou, porém por poucos segundos. Ao erguer minha cabeça e abrir meus olhos, que naquele momento lacrimejavam, devido a dor, vi a imagem embaçada de algo que estava à minha frente. Quando consegui enxergar de forma nítida, tornei a ficar imóvel. O sangue em minha veias havia parado de circular e o ar passou a escapar. Haviam três lobos enormes, com seus amedrontadores dentes e olhos avermelhados. Conseguia sentir suas respirações próximas a mim e talvez tinha decifrado, com um rápido raciocínio, o que estava escrito em seus olhos. Logo, o calor voltou ao meu corpo, portanto levantei-me rapidamente e passei a correr, mesmo estando debilitada.
Como havia imaginado, os lobos estavam atrás de mim, correndo com uma veloz rajada de vento. Mesmo tentando me concentrar para ver aonde eu estava indo, não consegui, pois meus pensamentos se dispersaram, me fazendo voltar a frustrantes acontecimentos. Parecia que era proposital. Havia algo ou alguém que estava fazendo isso comigo. Essa tortura não parava, até que senti algo que me segurou e fez meu coração se descontrolar. Em um segundo, quando vi, estava no ar, em cima de um rio obscuro, do qual estava prestes a cair.
Sonho ou realidade? [Parte 1]
A fria imensidão que me rodeava, estava dominada pelo silêncio. Caminhando sobre a grama molhada por gotículas cristalinas do anoitecer, escutava meus próprios passos, meus tênis roçando no tapete esverdeado, além de ouvir o som do profundo vazio, em um lugar tão complexo, entretanto, ao mesmo tempo tão simples e sereno. Ao passo que ia seguindo um caminho sem volta, o sono traiçoeiro tentava me dominar. Estava ficando cada vez mais difícil continuar sem rumo. Após uma intensa batalha que ocorreu dentro de mim, finalmente deixe-me ser invadida por meu inimigo, caindo num sono profundo, encostada a uma árvore úmida pelo sereno.
Iniciou-se a sessão de cinema. Após um período de cegueira, imagens começaram a aparecer. Parecia que eu estava na mesma floresta, na qual eu havia dormido, porém eu estava acompanhando o início da alvorada. Mais uma vez tornei a caminhar. Percebi a diferença entre meu antigo mundo e o que no momento eu estava. Tudo parecia bonito e iluminado, era normal, porém não era um ambiente que deixaria qualquer um sem ânimo ou que as faria começar a ter alucinações.
Fiquei imaginando se me depararia com um monstro gigante ou talvez com personagens de filmes de ficção ou coisas do gênero. Mas depois de tanto caminhar e ver que não havia nada além de plantas e um riacho, não havi nem sinal de animais ou mesmo pessoas, fiquei decepcionada. Mas ao menos estava soziha, não havia ninguém para me incomodar, nem dizer o que devia fazer ou não fazer ou que invés de ficar em cima de livros, deveria sair o tempo todo.
Continuei caminhando entre as árvores, sentindo meus pés andarem sobre um solo, do qual não sentia firmeza e que parecia que a qualquer momento eu afundaria. O tempo foi passando e minha agonia foi aumentando. Sem sinal de vida por onde passei. Parecia que eu estava dentro de um filme de terror. Senti meu estômago reclamar e meu corpo começar a fraquejar. Mesmo me sentindo exausta, não parei sequer um segundo de caminhar.
Pelo que deduzi já haviam se passado horas, pois na floresta já estava relativamente escuro e tudo estava numa intensa neblina, impedindo que eu conseguisse ter uma melhor visão, de onde eu estava.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Pensamentos
Pensar é algo que pode ser bom, mas ficar perdida em pensamentos em muitos momentos, já não poderia dizer que é algo bom. Ás vezes as criações feitas por nossa imaginação servem como forma de escapar do louco mundo, do qual vivemos.
Presenciamos e vivemos bons momentos, damos grandes sorrisos e sentimo-nos como se estivéssemos abraçados pela sorte. Porém a momentos em que tudo parece tão irreal, mesmo sendo o que dizem ser concreto e verdadeiro. Lágrimas percorrem por nossas faces, desempedidas, ou tentam aprisioná-las. Ás vezes nos sentimos sozinhos e nos perguntamos "Por que as coisas tinham que mudar?". Quando determinadas coisas ocorrem, nos revoltamos, mostrando a raiva que percorre viva em nossas veias, choramos, gritamos e ficamos inconformados. Mas também há aqueles que simplesmente aguentam a dor em silêncio, já que às vezes não querem compartilhá-la com ninguém, pois não querem que se preocupem ou talvez pelo fato de não terem alguém que possa te ouvir e ficar do seu lado.
Marcas de dor e de tristeza permanecem, mas as marcas de grande alegrias ou até pequenos momentos que nos fizeram muito feliz, que nos reconfortam, também ficam marcados para sempre, e estes podem ser aqueles que serão mais um dos motivos para estarmos aqui e seguirmos nossa caminhada, que às vezes pode parecer inútil e insignificante, entranto ela é algo de precioso, que não se pode desperdiçar.
Nossos pensamentos podem ser guardados apenas para nós mesmos, mas também podem ser expostos. Neles estão nossos segredos, opiniões, lembranças e medos. Talvez neles estejam o nosso eu verdadeiro, que algumas ou muitas vezes, acabamos ocultando-o, talvez por medo ou vergonha. Mas se quisermos, apenas com um simples ato podemos expressar da melhor forma nossos pensamentos.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Eternidade
A distância nos separa e as letras ao redor, não me fazem cair em um leve sono. Apenas estando perdida em pensamentos indesejáveis, a dor aumenta causando um intenso tormento inquieto, que transparece ao olhar para a feição dos que acabaram de chegar.
Suas cartas foram rasgadas e deixadas para trás, para que o vento levasse seus pedaços. Com isso comecei a perder o medo de me encarar em frente ao espelho e atravessá-lo se necessário.
O tempo vai passando e tudo ao redor envelhece, porém nunca perde o brilho, nem mesmo seu sorriso encantador. Apesar de um dia partir, o vento sempre lembra de soprar seu nome, deixando sua marca pela eternidade.
Vazio
Dúvidas me perseguem
E há uma caçada
Interminável
Pelo o que mais prezo
Nessa caminhada
O que irá acontecer
Se não consigo parar de escrever?
Rimas formando a estrutura
De um provável poema
Que por ser complexo
E no papel estar anexo
Não é possível sua compreensão
Portanto seu fim é em vão
Doce melodia
Seu cheiro me desperta
Sua imagem me provoca
Seu som soa
Como uma doce melodia
Seu olhar
Ao encontro do meu
Faz o tempo parar
Em meio a uma multidão
Percebo
O único
Que provoca
Minha transformação
Sob o olhar
A ligação
Entre duas folhas
Se desfaz
Sob o olhar
De olhos doentes
Que mal podem
Presenciar
Um acontecimento
Tão esperado
Entre duas folhas
Se desfaz
Sob o olhar
De olhos doentes
Que mal podem
Presenciar
Um acontecimento
Tão esperado
domingo, 9 de maio de 2010
Quem é aquela?
Afinal quem é aquela
Que te faz sorrir
Te faz sonhar
Te faz enxergar
O que você não vê
Quem é aquela
Que você vê todos os dias
Ou já viu
Ou se lembra de alguma forma
Sempre com carinho
Lembra-se dela
Fazendo de tudo
Por você
Te mostrando o mundo
Ao amanhecer
Quando cai
Ela te levanta
Quando chora
Ela te faz sorrir
Tudo por você
Quem é aquela
Que te apoia
Mas também
Te mostra o caminho certo
Fala o que você deve ouvir
Quem é aquela
Que te ama
E com apenas três letras
Pode-se dizer
M-Ã-E
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Trilhos do trem
Apenas sentia o balançar, que fazia com que minhas pálpebras se cansassem, querendo mergulhar em meio a escuridão e ao silêncio, que ali lhe era aguardado. Usava todas as minhas forças para me manter à luz, porém essa era uma tarefa difícil a ser cumprida. Todavia quando comecei a prestar atenção aos inúmeros sons que ali se faziam, tanto perto quanto longe, não olhei mais os delicados e negros "fios", os quais estavam sob o meu olhar há boas horas, e sempre me acompanharam e minha longa caminhada.
Ouvia pessoas sussurando, pares de xícaras dançando em cima de uma mesa, o som do movimento do vagão sobre os trilhos e o detestável som de minha respiração. Porém não tenho culpa se peguei um resfriado, graças a alta temperatura que se faz fora do vagão.
Após um longo tempo de viagem, finalmente o trem havia parado e um intenso e interminável silêncio havia inundado o ambiente, no qual eu estava. Peguei minha bagagem e parti em direção a porta, entretanto, quando realmente olhei para fora, me deparei com um deserto em branco e fui invadida pela agonia.
Da maneira que estava iria ficar. Parada em frente a porta, dentro do trem, porém senti meu corpo ser lançado para fora. Senti o frio penetrar em mim e a neve macia, que estava sob mim. Abri um pequeno sorriso e vi o trem partindo em meio ao nada, apenas seguindo seu curso e dando uma pequena ajuda.
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