quarta-feira, 28 de julho de 2010

Enigmas Femininos


Dentre uma multidão barulhenta e irreconhecível com um simples olhar, inúmeras palavras essenciais para a vida de uma comunidade com desejos necessidades em comum. Uma comunidade com segredos escondidos por gerações e mentes incapazes de serem decifradas por sua comunidade oposta ou por membros "incomuns" dela própria, que não compreendem sua própria essência e buscam outros caminhos para não serem comparados com membros semelhantes.

- Você já usou aquele novo creme capilar de óleo de amêndoas? - perguntou uma senhora loira, de estatura baixa, à minha mãe, que estava tingindo o cabelo.
- Claro! Mas eu prefiro o outro que comprei da Dona Letícia. Ele deixa o cabelo mais macio.

Enquanto minhas unhas eram pintadas com uma cor que nunca havia visto na vida, eu tentava compreender os enigmas femininos.
Frisar, escova de chocolate, banho de luzes, esfoliação? Isso existe? Em que mundo eu estou?
Essa linguagem complicada não é compreendida por meu cérebro, que não decifra certas atitudes e palavras do vocabulário feminino.

- Minha querida, você gostaria de fazer californiana no seu lindo cabelo? - Dona Letícia me perguntou, com um sorriso convincente.

Meu olhar parou sobre o de minha mãe, que assentiu com a cabeça.

- Por mim tudo bem. - dei um sorriso forçado.

Chegando em casa, fui me olhar no espelho. Fiquei admirada comigo mesma. Nunca tinha ficado com o cabelo tão bonito e arrumado.

- Gabrielle! Você vai usar o vestido preto com decote e a sandália de salto agulha?

Minha cabeça começou a rodar.
Mesmo não gostando da roupa que minha mãe tinha arrumado para mim, vesti do mesmo jeito, porém reclamando o tempo todo. No fim, acabei colocando um vestido mais "adequado" para o meu gosto, uma sandália mais baixa e passei uma leve maquiagem em meu rosto.
Ao chegar à festa, vi todas as meninas enfeitadas e me senti um pouco envergonhada. Estava pensando em voltar para casa, então dei meia volta, sem olhar direito para trás e acabei esbarrando com um garoto lindo, com incríveis olhos castanhos.

- Você está bem? - ele perguntou preocupado.
- S-s-sim. - gaguejei.
Ele deu um doce sorriso, sendo convincente o suficiente para me fazer ficar na festa mais tempo do que antes eu pretendia.  

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lanternas em meio a noite


Eu estava escutando a chuva cair e escorrer pela janela do meu quarto. Estava deitada na cama, com os pés voltados para baixo. A atmosfera se encontrava calma, mostrando um perfeito lugar para ocupar um pouco do tempo para dormir. Meus olhos começaram a implorar para serem fechados e contemplarem o escuro. Segui suas ordens.
Escutei um estrondo. Pensei que pudesse ser um trovão, mas logo percebi que era pouco provável. Abri os olhos e me deparei com o escuro novamente. Fiquei assustada. O que está acontecendo? Por que as luzes estão apagadas?
Segui andando pelo apartamento. Tudo estava completamente escuro. Não escutei nenhum ruído, nem mesmo vozes ou passos. Onde estão meus pais? Será que me deixaram?
Imaginei que tivesse dado um apagão. Fui para a cozinha, para tentar achar uma lanterna ou uma vela. Encontrei uma vela, mas o fósforo não deu nem sinal de vida. Então desisti e resolvi procurar uma lanterna. Logo encontrei uma, com a cor verde florescente. Com certeza era da minha mãe. Não sabia por que ela guardava as lanternas na cozinha. Bem que podia colocá-las em outro lugar. Mas, isso não teve mais importância.
Andando pelo longo corredor, junto a lanterna, reparei que havia várias portas que estavam fechadas. Não entendi o motivo, porém não me atrevi a abrir. Voltei para a cozinha. Escutei um barulho da porta do corredor do prédio se fechando, fazendo um ruído medonho. Abri a porta da cozinha, que dava para esse corredor. Não vi nada. Também não fiquei assustada. 
Caminhei para o meu quarto e vendo pela janela, reparei que havia pessoas com lanternas, no prédio em frente ao meu. Se não fosse pelas lanternas, não dava para enxergar nem sequer um carro.
Havia até mesmo uma lanterna chinesa, que uma bela senhora estava segurando. As lanternas eram balançadas de um lado para o outro, fazendo um efeito com a luz, de forma incrível. Parecia que todas estavam sincronizadas, acompanhando o ritmo de uma melodia. Estou sonhando? Será que estou acordada mesmo?
Deixei a janela. Então escutei um barulho vindo da sala de estar. Me encaminhei para lá. Porém a porta estava fechada. Mesmo assim, dessa vez, abri sem medo. Meus olhos ficaram admirados com um grande brilho.

- Surpresa!! Feliz Aniversário!! - todos da sala disseram.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dia ensolarado


Sem nada para fazer. Apenas sentada em uma cadeira, com a cabeça apoiada em uma das duas mãos, que estavam sobre a mesa. Sentindo o fraco e gelado vento, vindo da janela da cozinha, tocar suavemente as maçãs de meu rosto. Fiquei apenas pensando em algum lugar, em que eu pudesse ir e fazer algo, para não passar o resto do dia confinada em casa, sozinha entre quatro paredes.

O clima piorou e um intenso frio me atingiu e fez arrepiar cada parte do meu corpo, da mesma forma que ocorreu em um sonho que tive na noite passada. Com aquele frio, eu acabaria pegando um resfriado. Uma janela abriu-se rapidamente e fez um estrondo, que foi seguido do som do vidro se quebrando. Subi as escadas correndo, para ver o estrago. Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou, porém logo senti como se meu sangue tivesse congelado e parado de circular pelo meu corpo. Inesperadamente, uma descarga de raiva parou sobre mim. Eu sabia quem estava por perto. Sentia sua presença e seu detestável cheiro, que afetava meu olfato e me causava certo mal-estar.

Em meio a uma chuva fina que invadiu minha casa, pude ver sua feição de tirar o fôlego. Sua beleza, principalmente seus incríveis e indecifráveis olhos azuis, faziam meu coração bater frenéticamente, de forma inexplicável, o que me irritava muito.

Quando voltei a ficar consciente, comecei a pensar no motivo pelo qual ele estivesse ali, olhando fixamente para mim, com olhos preocupados, entretanto havia algo diferente em seu olhar. Ele começou a andar em minha direção. Como não sabia o que fazer, apenas fiquei parada. Quando chegou bem próximo de mim, me olhou nos olhos e me deu um abraço. Essa atitude inesperada fez meu coração acelerar mais do que de costume. Senti meu rosto corar, pois sabia que naquele momento, ele estava escutando as batidas compulsivas e involuntárias do meu coração.

Se eu o detestava e tinha desprezp por seu cheiro, eu não podia ficar dessa maneira. Não compreendia o que estava acontecendo. Mesmo assim, o que eu mais queria naquele momento, era apenas permanecer em seus braços e sentir seu contagiante aroma, o qual, toda vez em que nos víamos, eu fazia o impossível para detestá-lo, porém meu esforço era sempre em vão. Estando abraçados, eu sentia sua respiração e seu coração pulsando de uma forma incomum.

Estava desnorteada com isso, entretanto, eu queria que esse momento nunca acabasse. Ao lembrar das diversas vezes em que conversamos e ele foi tão doce e amigável comigo, senti certa agonia e raiva de mim mesma, por ter tentado odiá-lo todo aquele tempo. Não queria sentir nada por ele, entretanto não devia ser antipática.

Enquanto fiquei perdida em meus pensamentos, não aproveitei aquele momento o suficiente. Logo ele começou a se afastar um pouco de mim, porém o puxei de volta e o abracei. Senti uma lágrima escorrer com delicadeza por minha face, provavelmente ainda corada. Cheguei bem perto de sua face esquerda, sentindo sua pele suave.

- Me desculpe. - sussurrei, em seguida outra lágrima percorreu minha face.

Paul se moveu um pouco e olhou nos meus olhos molhados. Ele passou sua mão direita suavemente sobre as maçãs de meu rosto. Isso fez meu coração pulsar frenético outra vez, sendo que há pouco ele havia se acalmado. Instintivamente, eu procurei uma forma de esconder meu rosto, porém fui impedida pelo toque de sua mão em minha face. Paul ficou mais próximo de mim, então consegui sentir sua respiração bem perto do meu rosto. Logo seus lábios macios tocaram os meus, me fazendo esquecer de tudo que estava à minha volta. Percebi que eu estava me enganando o tempo todo. Ele era o meu dia ensolarado.

Entre estrelas


Caminhando entre estrelas
Seu olhar contempla
A distante alvorada
Que a pouco estava
A iluminar
A imensidão cristalina
Sobre sua alma albina

Entre as rosas vermelhas
Vejo seu olhar
Que ao encontro do meu
Resplandece em meio ao luar

Por que...


Por que não me diz

Que mesmo junto a ti

Não reside a esperança

Mas sim, talvez a cobrança

Que em seu deleite

Chora em prantos

Além dos meus olhos

Após morrera morte
O que será feito de mim?
Irei pairar pela terra
E amedrontar
Os que me afrontam?

Nenhuma luz
Nem sequer expectativa
Sem saber
O que me espera
No desconhecido

Indo além do mar
Sem fronteiras
Que nunca conheci
Nada além do que vejo
Apenas poeira

Uma doce voz
Foi captada
Por meus doentes ouvidos
Não enxergava quem falava
Porém a escutava com atenção

Será que nesse alguém
Apenas há lastima
De um pobre condenado?
Sendo proposital
Ou um ser caridoso?

Seus traços me guiaram
Sobre a intensa escuridão
Que como um velho coitado
Nem sequer sabia
Onde estava

Sua voz me acalmou
E assim pude
Descansar em meu leito
Sem temer o que não conheço
Com a volta do manto negro

Possível afeto


Se já não bastasse o barulho infernal, ainda tinha que acompanhar o garoto que teoricamente arruinou minha vida. Parecia maravilhado com a movimentação nas ruas e só me dizia coisas , que por mim eram consideradas irrelevantes e inconfundivelmente tolas.

A cada passo dado aparentemente o barulho aumentava e começava a me ensurdecer. Me senti mal, a ponto de desmaiar e fiquei com uma vontade incontrolável de chorar. Sem dúvida estava acontecendo algo, mas eu não podia fazer nada. Era tarde demais.

Mal tinha percebido, que eu havia parado no meio do caminho e Paul estava me olhando apavorado e dizendo algo, que apenas depois de várias tentativas consegui entender
- Você está bem? - ele perguntou com um tom estranho em sua voz.
Balancei a cabeça em resposta.

Sua expressão se suavizou, porém seus olhos ainda estavam penetrantes e ainda preocupados. Algo me fazia arrepiar, entretanto, o ar estava quente e o céu estava como um mar sem peixes.

Senti uma intensa vontade de sair correndo, mesmo não sabendo para onde ir. Me desliguei do meu mundo por alguns segundos, pois Paul logo tentou chamar minha atenção e me encarou com seus incríveis olhos azuis cristalinos, como a cor de uma água oceânica, prestes a me invadir.

Involuntariamente o abracei. Nunca imaginei que um dia faria isso. Pensei que ele se afastaria de mim ou me empurraria delicadamente para não ser rude em um momento como esse, porém aconteceu algo surpreendente. Ele não rejeitou meu abraço, e sim me envolveu suavemente em seus braços e eu encostei minha cabeça em seu ombro, já que temos uma certa diferença de tamanho. Me senti segura e reconfortada. As lágrimas não deslizaram pelo meu rosto, pois fiz o impossível para segurá-las. Tinha que ser forte e não ficar frágil como um vidro, que se derrubado, se quebra em mil pedaços.

Nunca pensei que Paul iria fazer algo assim, talvez como uma demonstração de afeto ou de que eu tivesse alguma importância para ele. Apenas aproveitei o momento, porém, talvez, eu estava delirando demais, ao pensar nessas possibilidades.

Sonho ou realidade? [Parte 3]


Quando senti um enorme peso sobre meu corpo, já havia compreendido que eu já estava em meu maior pesadelo. Aos poucos consegui enxergar o que havia naquela imensidão. Percebi que havia algo que brilhava, e sendo assim, de um tanto me hipnotizava. Segui em direção as profundezas, até que me deparei com algo surpreendente. O fundo era constituído por um infinito e espesso tapete de diamantes, que mostravam sua beleza com intensidade. Estando impressionada e ao mesmo tempo incrédula, me senti obrigada a tocar naquele tapete. Com um simples toque, a palma de minha mão tornou a arder e uma pequena mancha vermelha passou por mim. De forma inesperada, vultos negros apareceram e passaram a girar à minha volta, tornando meu pânico ainda maior. Ao pararem, consegui definir suas formas, que pareciam as de um ser humano normal, mas continuei acreditando que as aparências enganam.

Um garoto que estava entre aqueles seres, se aproximou de mim, me deixando imóvel e tocou suavemente meu rosto. Seu toque foi tão suave que parecia o vento inexistente me acariciando. Seus olhos avermelhados me lembraram da dor de ser acorrentada por uma árvore. Logo apenas pude ver uma escura imensidão. O fim estava à minha espera, preparado para me acolher.

Ao abrir meus olhos, a luz do sol e o canto dos pássaros, me acordaram para a realidade. Me senti aliviada por ter sido apenas um terrível pesadelo e por estar viva. Levantei para seguir pelo caminho do qual sabia que deveria seguir. Entretanto, nesse exato momento, senti a palma de minha mão arder fortemente.

Sonho ou realidade? [Parte 2]


Em um determinado momento, desisti de tentar enxergar com clareza, portanto encostei em uma árvore que estava próxima, já que estava muito cansada. Nesse exato momento vi um vulto negro passando rapidamente por mim. Meus sentidos se alarmaram e o pânico me invadiu. Ouvi o uivo de lobos, ecoando dentro da floresta. Em uma fração de segundos, meu corpo foi puxado com violência para mais perto da árvore. Eu estava sendo impedida de me mover, pois estava acorrentada por algo que não consegui definir. Cada vez mais ficava mais difícil respirar e devido a isso, não tinha força para me libertar das correntes que me sufocavam. À medida que meu ar escapava, a escuridão me inundava. Quando pensei que o caminho entre os espinhos estava à minha espera, me senti sendo atirada de forma brusca no chão. Um fraco suspiro de alívio foi solto por meu corpo, que no momento estava um tanto debilitado. Com as mãos encostadas na terra úmida, senti um intenso frio que passou a me dominar.

Ainda com os olhos fechados, ouvi o som de passos cautelosos e uma respiração ruidosa. Logo um silêncio intenso pairou, porém por poucos segundos. Ao erguer minha cabeça e abrir meus olhos, que naquele momento lacrimejavam, devido a dor, vi a imagem embaçada de algo que estava à minha frente. Quando consegui enxergar de forma nítida, tornei a ficar imóvel. O sangue em minha veias havia parado de circular e o ar passou a escapar. Haviam três lobos enormes, com seus amedrontadores dentes e olhos avermelhados. Conseguia sentir suas respirações próximas a mim e talvez tinha decifrado, com um rápido raciocínio, o que estava escrito em seus olhos. Logo, o calor voltou ao meu corpo, portanto levantei-me rapidamente e passei a correr, mesmo estando debilitada.

Como havia imaginado, os lobos estavam atrás de mim, correndo com uma veloz rajada de vento. Mesmo tentando me concentrar para ver aonde eu estava indo, não consegui, pois meus pensamentos se dispersaram, me fazendo voltar a frustrantes acontecimentos. Parecia que era proposital. Havia algo ou alguém que estava fazendo isso comigo. Essa tortura não parava, até que senti algo que me segurou e fez meu coração se descontrolar. Em um segundo, quando vi, estava no ar, em cima de um rio obscuro, do qual estava prestes a cair.   

Sonho ou realidade? [Parte 1]


A fria imensidão que me rodeava, estava dominada pelo silêncio. Caminhando sobre a grama molhada por gotículas cristalinas do anoitecer, escutava meus próprios passos, meus tênis roçando no tapete esverdeado, além de ouvir o som do profundo vazio, em um lugar tão complexo, entretanto, ao mesmo tempo tão simples e sereno. Ao passo que ia seguindo um caminho sem volta, o sono traiçoeiro tentava me dominar. Estava ficando cada vez mais difícil continuar sem rumo. Após uma intensa batalha que ocorreu dentro de mim, finalmente deixe-me ser invadida por meu inimigo, caindo num sono profundo, encostada a uma árvore úmida pelo sereno.

Iniciou-se a sessão de cinema. Após um período de cegueira, imagens começaram a aparecer. Parecia que eu estava na mesma floresta, na qual eu havia dormido, porém eu estava acompanhando o início da alvorada. Mais uma vez tornei a caminhar. Percebi a diferença entre meu antigo mundo e o que no momento eu estava. Tudo parecia bonito e iluminado, era normal, porém não era um ambiente que deixaria qualquer um sem ânimo ou que as faria começar a ter alucinações.

Fiquei imaginando se me depararia com um monstro gigante ou talvez com personagens de filmes de ficção ou coisas do gênero. Mas depois de tanto caminhar e ver que não havia nada além de plantas e um riacho, não havi nem sinal de animais ou mesmo pessoas, fiquei decepcionada. Mas ao menos estava soziha, não havia ninguém para me incomodar, nem dizer o que devia fazer ou não fazer ou que invés de ficar em cima de livros, deveria sair o tempo todo.

Continuei caminhando entre as árvores, sentindo meus pés andarem sobre um solo, do qual não sentia firmeza e que parecia que a qualquer momento eu afundaria. O tempo foi passando e minha agonia foi aumentando. Sem sinal de vida por onde passei. Parecia que eu estava dentro de um filme de terror. Senti meu estômago reclamar e meu corpo começar a fraquejar. Mesmo me sentindo exausta, não parei sequer um segundo de caminhar.

Pelo que deduzi já haviam se passado horas, pois na floresta já estava relativamente escuro e tudo estava numa intensa neblina, impedindo que eu conseguisse ter uma melhor visão, de onde eu estava.