terça-feira, 8 de março de 2011

Ilusão


O sibilar se desdobrava à medida que minha boca se movia. Referia-se a uma doce melodia que eu havia aprendido quando os pensamentos infantis ainda preenchiam meus traços de garoto. No entanto, em meio a uma longa avenida nada além de pneus roçando no asfalto e ligeiras palavras derramadas se podia ouvir. Com o passar do tempo o som produzido por mim enquanto eu caminhava estava se tornando cada vez mais quase inaldível. Rapidamente minha memória percorreu por movimentos humanos que dançavam de uma forma, a qual meu sonho era aprender dominá-la.
De modo repentino um vulto obscuro passou em meio a multidão de pessoas. Ignorei o ocorrido e segui em direção à estação de metrô que se encontrava repleta de rostos desconhecidos que apresentavam sinais de exaustão. Enquanto meu corpo sentia o balançar provocado pelo rápido movimento do comprido meio de transporte, meus olhos passavam por todos que estavam por perto. Fiquei surpreso ao perceber que o local se encontrava quase vazio. Aos poucos me dei conta de que minha visão havia se tornado mais opaca. Logo passei a imergir na escuridão por alguns minutos. Ao abrir os olhos, havia apenas um traço de luz: uma chama azulada ao fundo do metrô. Caminhei em sua direção e ao sentir o calor tocar a minha pele, uma sensação de desconforto invadiu-me. A chama apagou e todas as luzes do local tornaram a acender.
A velocidade do meio de transporte aumentou bruscamente, jogando-me com força para trás. Após a demora para me levantar e encontrar algo em que eu pudesse me segurar, de alguma forma me recordei do meu pai, que  sempre trabalhava de modo excessivo e nunca tinha tempo para ficar ciente de um de meus grandes sonhos. Apenas minha mãe estava informada sobre isso. Meus pensamentos foram cortados de imediato. O movimento havia cessado e mais uma vez meu corpo deu de encontro com paredes gélidas, que me fizeram estremecer. Ao reparar que as portas haviam sido abertas, não pensei duas vezes. Logo me senti aliviado quando meus pés sentiram a firmeza de um chão. Dei alguns passos pela calçada ao lado do metrô, até que a luz deixou-me. Ouvi passos ligeiros se aproximando. Mesmo não enxergando nada, sai em disparada. Como resultado cai aos tropeços.
Eu não conseguia compreender o que estava acontecendo. O medo passou a me provocar certo incômodo. A chama azulada apareceu iluminando o lugar. Sem hesitar meus pés se moveram até essa fonte de luz. Ao tocá-la, como era de se esperar a palma de minha mão sentiu um quente ardor.
- O que está acontecendo? - gritei com grande irritação.
Inesperadamente, em meio ao azul imagens começaram a passar como um filme. Havia meu pai com olhos concentrados sobre o computador, logo depois estes se dirigiram a mim. Novamente tudo foi mergulhado em meio ao escuro. Porém, após alguns segundos, faíscas saíram dos trilhos do trem. Meus ouvidos captaram o som de dezenas de passos. Luzes de incontáveis cores surgiram, mostrando traços humanos dançando de forma realmente bela.
- Olá, meu filho! - meu pai surgiu com sua habitual roupa de trabalho, mostrando um enorme sorriso.
Finalmente as pessoas que ali se encontravam se revelaram de forma sincronizada. Fiquei realmente surpreso.
- Eu estava observando o pessoal repassar as coreografias para nossa apresentação de sexta-feira. - ele se explicou.
Não consegui pronunciar nenhuma palavra.
Eu não sabia que meu pai cuidava de ensaios para que aqueles dançarinos se apresentassem. Minha mente ficou completamente confusa. De algum modo nada daquilo fazia sentido, ao menos para mim.
- Não estou entendendo o que está acontecendo. - as palavras finalmente saíram.
O homem que ficava ao meu lado poucas vezes, caminhou até chegar bem próximo a mim e deu um leve tapinha no meu ombro com um sorriso de amor paterno, e disse:
- Espero que você não chegue tão tarde em casa.
Ao coçar fortemente os olhos e logo em seguida permitir que fossem abertos, levei um gigantesco choque. Tudo parecia normal. Havia inúmeras pessoas circulando pela estação. Algumas entraram no metrô e outras conversavam umas com as outras. O local se encontrava bem iluminado e sem nenhum traço de luzes coloridas ou daqueles dançarinos ou de meu pai.
Será que eu estou ficando louco? Será que tudo foi apenas uma ilusão? ... Uma ilusão?
  

Um comentário:

  1. adoro estes tipo de contos fantasticos. :-)
    ah. vi a sua mensagem no meu skoob e gostei sim do seu blog. claro que já coloquei o link para o meu na parte de "blog dos amigos" É mesmo né.. o Tratado secreto de magia é um ótimo livro. :-)
    Um grande abraço para você escritora.
    Adriano siqueira
    www.contosdevampiroseterror.blogspot.com

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